Educação Cristã é Conscientização
Paulo Freire, o educador brasileiro, se tornou conhecido mundialmente pela sua filosofia de educação a qual ele denominou “conscientização”. Para êle, a educação conscientizadora é aquela que rompe o ciclo da dependência do aluno ao professor, tornando o aluno em um sujeito, isto é, um elemento ativo na educação. Dessa maneira, segundo Paulo Freire, quebra-se o modelo que ele chama de educação bancária, no qual o aluno é somente um ser passivo, e do qual espera-se apenas a repetição das coisas que lhe foram ditas. Daí em diante, o aluno transforma-se em alguém que dialoga com os problemas e situações, torna-se consciente a respeito deles, e passa a exercer o papel de agente de transformação de si mesmo e de seu ambiente.
Em seu enfoque sobre conscientização, Paulo Freire enfatizou a parte sociológica e antropológica da conscientização. Desde que conscientização tem a ver com mudanças promovidas pelo exercício da consciencia, não podemos falar sobre o assunto sem primeiro entendermos, pelo menos um pouco, do que é a consciencia. Através da história, a consciencia tem sido examinada através dos pontos de vista filosófico, secular e religioso. Neste artigo, proponho discorrer sobre consciencia e conscientização do ponto de vista bíblico. Consciencia pode ser definida de maneira abrangente como sendo a faculdade que distingue quando uma ação é certa ou errada. Do ponto de vista cristão, a faculdade da consciência é dada por Deus através da ordem natural da criação. O apóstolo Paulo toca nesse assunto em Romanos capítulo 2, fazendo a seguinte declaração nos versículos 14 e 15: “ Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se,”.
A conscientização deve ser o papel primordial da Educação Cristã. A parte antropológica da conscientização na qual a educação cristã deve tocar, é aquela relacionada com a prática da vida cristã, a qual começa imediatamente após recebermos a Jesus como nosso salvador pessoal. Ao explicar a verdade de Deus e seu trabalho em nosso favor, o educador necessàriamente faz referência a realidade humana como base para a explicação. Ele explica o significado da cruz, por exemplo, pressupondo a realidade humana do pecado e a merecida condenação (verdade antropológica), requerido pela santidade de Deus(verdade teológica). Se requer que o educando aceite não sòmente um novo entendimento sobre Deus, mas também aceite um entendimento específico de si mesmo como repreensível e injusto pecador. Como educadores cristãos, nós temos que confrontar diretamente, e reconhecer formalmente que chamar o povo a um novo entendimento de si mesmos como pecadores, é de fato parte de nossa tarefa.
Essa não é uma tarefa fácil. As pessoas normalmente desejam ter uma visão favorável de si mesmas. Mecanismos psicológicos tais como negação, racionalização e projeção são usados para se auto-protejer de uma visão negativa de si mesmo. A pecaminosidade e depravação da qual estamos falando aqui leva o indivíduo a suprimir a verdade a respeito de si mesmo de maneira incorreta. O educador que ensinar verdades desagradáveis sôbre o ser humano é dificilmente apreciado, e pode até ser rejeitado.
Um educador cristão poderia ter até ter uma boa desculpa para evitar uma terefa tão inapreciada, porém o fato é que ele irá prestar contas de sua tarefa a Deus. Afortunadamente, o educador cristão tem um aliado em potencial, dado por Deus, para ajudá-lo na tarefa da conscientização, um aliado na tarefa de persuadir o indivíduo de sua própria pecaminosidade, de seu merecido julgamento, e da sua necessidade de salvação e santificação.
Esse aliado é a consciência. Quando o educador cristão se envolve na tarefa do ensino, a consciência testemunha atestando que a palavra de Deus é verdadeira. Por causa do pecado somos seres divididos, verdade e erro estão misturados de tal forma que nosso caráter precisa ser forjado através de novos padrões, os padrões bíblicos. No preciso momento em que o pecador está resistindo e rejeitando a mensagem sobre si mesmo, por causa do testemunho da consciencia, parte de seu ser talvez esteja concordando vigorosamente com a mensagem. Assim sendo, a consciencia é uma ferramenta que o Espírito Santo usa no processo de conscientização da pessoa sobre sua própria culpabilidade e falhas morais e também. Um bom exemplo é a história de quando o profeta Natan confrontou Davi por causa do seu pecado. Ele contou a historia do homem que tinha muitas ovelhas, mas que decidiu matar a única ovelha do seu próximo para dar uma festa. Esta história foi preparada para tornar o senso do certo e errado de Davi apaixonadamente comprometido. Natan fez com a consciência de Davi trabalhasse colaborando com sua declaração externa de pecado e juizo. A conclusão de Davi era que essa horrível criatura que cometeu um crime tão abominável deveria morrer.
A consciência mantém sua velha incumbencia de testemunhar contra o pecado, porém, ao mesmo tempo, começa um novo processo de desvendamento da obra de Deus realizada em favor do ser humano. Nesse ponto, pela ação do Espírito Santo na consciencia, a convicção de pecado e o arrependimento vem a tona. Após o processo de arrependimento do pecado, a consciencia traz ao coração do pecador a paz e o senso de perdão, decorrentes da obra de Jesus na cruz e de sua ressurreição. A consciência de Davi concordou vigorosamente com a verdade do pecado de Davi. Continuando com o exemplo de Davi, depois que ele respondeu ao trabalho de sua consciencia com remorso e arrependimento, ele escreveu o Salmo número 51 onde expressa sua dependencia de Deus para purificação, aceitação, e nova oportunidade de vida. Esse é o trabalho da consciencia, quando através do Espírito Santo, trabalha no ser humano formando o verdadeiro caráter cristão.
Em todo ensino cristão efetivo, eu afirmo, existe um elemento desse apelo à consciência. O Espírito Santo trabalha através da proclamação externa da Palavra usando a faculdade interna da consciência para produzir convicção de pecado. Em toda verdadeira conversão encontramos a consciência do indivíduo operando em favor do arrependimento, da fé, e vemos seu fruto na mudança de vida da pessoa A esse processo eu chamo de conscientização. A verdadeira conscientização produz na pessoa a capacidade de ver tanto o lado negativo como o positivo das coisas, evitando porém que o lado negativo a deixe deprimida e paralizada pela realidade do pecado. A conscientização cristã desagua no amor, expresso através da graça e da misericórdia de Deus, onde a pessoa encontra aceitação e poder para o cumprimento de seu destino de filho(a) de Deus.
Joao Carlos Nunes da Rocha, Ph.D.
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